quarta-feira, 7 de maio de 2008

Ver e não obter

Algo decidiu que eu seria boba a maior parte do tempo
Que minhas feições, muitas vezes brutas, esconderiam uma sensibilidade quase ridícula
Algo simplesmente escolheu as minhas reações,
que eu sentisse o impacto no peito das ações alheias
Algo ignorou o que eu queria e me obrigou a ser o que virei
Virei eu, do avesso, às experiências não esperadas quase redundantes versus os sentimentos abundantes ao reverso da existência... e que... não contém o verso da essência.
Sem emendas, retalia-se o esperado
O esperado que somente eu esperei
que os outros obtiveram sem esperar
e que eu
Vi navios

terça-feira, 6 de maio de 2008

vida, filme ou isso

Escolho com cuidado um filme.
O mais triste. O pior em tristezas. Pra que eu possa chorar, chorar até latejar a cabeça.
Mas um choro em que não me questione, um choro com motivos.
O filme.
Mas pra tirar todo o peso que trago acomodado no peito. Sufocando.
A vida.
Escolho com cuidado uma música. A que cutuque, através dos meus tímpanos, o detalhe mais escondido. A que faça doer. A que faça arrancar, os piores sentimentos. Inclusive o resto.
Lavo-me. As lágrimas lavam. Lágrimas em que o filme protagoniza.
A vida é a coadjuvante.
Principal.

Elementar

Uma vida a menos. Nada que fizesse poderia mudar a consciência do não saber como resistir. Nada que pensasse me transformaria em um Jack Daniels.
Queria desfilar entre a garganta de algum escritor boêmio e tuberculoso. Contestador da inércia, a própria em que vivia. Onde escreveria o seu sucesso no dia do meu gole, no dia de sua morte.
Eu o contaminaria com o excesso egocêntrico do ser alcoolizado. Morreria, aos poucos.
No último pigarro tuberculoso assinaria sua obra. A melhor das obras.
E seu cigarro começado cairia sobre o whisky derramado. Alguém o acharia. Alguém que não o amasse.
Esse alguém o criticaria.
Esse alguém o enterraria.