quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Dar, nem sempre da melhor maneira

Dou de ombros hoje
Já dei de coração
Dou de cara
nessa parede dura e encardida
Dei o que precisava ganhar
Ganhei o que não dei
Darei no pé?

sexta-feira, 13 de junho de 2008

exclama-te

Vociferando palavrões.
Ele foi, que ficou rouco e roufenho.
Mais motivos pra mais palavrões.
Anedônio rapaz não percebeu a indiferença das pessoas que o cercavam.
Cercavam e o tratavam como deviam.
Deviam era estar em suas casas
e deixá-lo em paz.
Nem todas angústias precisam ser dividas.
Eu gritei: “deixem-no ficar só”. Com exclamação e tudo.
Algumas pessoas olharam pra mim, com interrogação e tudo.
Eu, em negrito e abrindo um grande travessão berrei, em caixa alta: morram e verão.
Mas aí, quando percebi a contradição, já havia um ponto final.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O fim do sonho

Ontem, vindo pra cá, bati em um sonho.
Ele ficou lá, estirado no chão.
E eu ali, parada, segurando forte a direção.
Eu achava que o tinha matado.
Levantei e fui até lá,
me agachei e aos seus ouvidos disse "por favor, não desapareça"
E o sonho sorriu, docemente.
Me dei por satisfeita.
E então, ele partiu.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

signos

Horóscopos são idiotas. Deve existir um sorteio no jornal, com as frases prontas todas num saco. Aí o azarado do dia vai lá e vai preenchendo os signos.
Em doismiltrezendosequarentaesetedias, ele acerta uma vez.

"Quanto mais você pensar, mais você saberá, e quanto mais você souber, a dor aumentará também, porque se descortinará o panorama real dos relacionamentos e, principalmente, das pessoas envolvidas. Contudo, este é o processo da liberdade."

que vergonha, eu não leio horóscopos, viu? Isso foi um acidente.

domingo, 8 de junho de 2008

Peixes

isso é uma linda música:

"Peixes são iguais a pássaros
Só que cantam sem ruído que não vai ser ouvido
Voam águias pelas águas
Nadadeiras como asas que deslizam entre nuvens
Nós vivemos como peixes:
Com a voz que em nós calamos,
com essa paz que não achamos...
peixes pássaros pessoas
nos aquários, nas gaiolas
pelas salas e sacadas
afogados no destino
de morrer como decoração das casas
Nós morremos como peixes
O amor que não vivemos
Satisfeitos mais ou menos
Todas iscas que mordemos
Os anzóis atravessados, nossos gritos abafados ..."

de uma bonita banda

Catarse

Nada tão catártico poderia esperar.
Depois da tempestade, diziam que abriria o sol.
E o sol só consegue ser lindo quando ilumina o nascer de flores...

Reinventando a vida! Reflorescendo.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

mentiras

Eu queria poder classificar e quantificar essa tristeza. Acho que são os resquícios tecnicistas... ou então qualquer medida que qualquer um buscaria como fator mitigante do extremo cansaço sentimental.
Isso emburrece. Isso quase que bitola.
Eu quero a solidão, eu quero muitas pessoas.
Eu te quero longe, por que eu já vi que há tempos tu me trouxeste a infelicidade de estar ao teu lado. Eu te quero perto. No passado.
Não é nada libertador o que sinto.
Eu sinto ódio, eu sinto medo, eu sinto dor, eu sinto mágoa, eu sinto várias coisas que dão vergonha de escrever. Porque eu sempre me achei forte...
Lágrimas escorrem de minha blusa, pois o tecido já não consegue absorvê-las.
Espero, ansiosa, a pneumonia que se aproxima.

Existia uma certa perfeição na imperfeição. Era tudo tão adoravelmente gostoso.

Agora, o vinho acabou. O sono não veio. Beberei das lágrimas. Dizem que contém um certo teor do ingerido. Ledo engano? As tentativas pelo menos tomam o tempo. E o tempo... cura tudo. Isso também aprendi.
um vento soprou muito forte...

perdi as peças...

todas.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

quebra-cabeça

Agora estou aqui, juntando peça a peça de mim. Não, não estou destroçada.
O que estou a juntar foram as peças que joguei no chão, espalhei, soprei e quase pisoteei.
A bagunça espelhada naquilo que tu foste o primeiro a fazer.
Tu não tens culpa, com o teu pioneirismo.
Da mesma forma que eu estou a sentir, também pela primeira vez.
A ânsia dos desequilíbrios.
Os infernais desequilíbrios.
Mas a promessa é bonita.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Ver e não obter

Algo decidiu que eu seria boba a maior parte do tempo
Que minhas feições, muitas vezes brutas, esconderiam uma sensibilidade quase ridícula
Algo simplesmente escolheu as minhas reações,
que eu sentisse o impacto no peito das ações alheias
Algo ignorou o que eu queria e me obrigou a ser o que virei
Virei eu, do avesso, às experiências não esperadas quase redundantes versus os sentimentos abundantes ao reverso da existência... e que... não contém o verso da essência.
Sem emendas, retalia-se o esperado
O esperado que somente eu esperei
que os outros obtiveram sem esperar
e que eu
Vi navios

terça-feira, 6 de maio de 2008

vida, filme ou isso

Escolho com cuidado um filme.
O mais triste. O pior em tristezas. Pra que eu possa chorar, chorar até latejar a cabeça.
Mas um choro em que não me questione, um choro com motivos.
O filme.
Mas pra tirar todo o peso que trago acomodado no peito. Sufocando.
A vida.
Escolho com cuidado uma música. A que cutuque, através dos meus tímpanos, o detalhe mais escondido. A que faça doer. A que faça arrancar, os piores sentimentos. Inclusive o resto.
Lavo-me. As lágrimas lavam. Lágrimas em que o filme protagoniza.
A vida é a coadjuvante.
Principal.

Elementar

Uma vida a menos. Nada que fizesse poderia mudar a consciência do não saber como resistir. Nada que pensasse me transformaria em um Jack Daniels.
Queria desfilar entre a garganta de algum escritor boêmio e tuberculoso. Contestador da inércia, a própria em que vivia. Onde escreveria o seu sucesso no dia do meu gole, no dia de sua morte.
Eu o contaminaria com o excesso egocêntrico do ser alcoolizado. Morreria, aos poucos.
No último pigarro tuberculoso assinaria sua obra. A melhor das obras.
E seu cigarro começado cairia sobre o whisky derramado. Alguém o acharia. Alguém que não o amasse.
Esse alguém o criticaria.
Esse alguém o enterraria.